fonte: MedScape

O uso de um novo esquema terapêutico em pacientes com leucemia promielocítica aguda pediátrica foi associado a resultados notáveis, de acordo com pesquisadores do National Cancer Institute (NCI) dos Estados Unidos.

Com o uso do esquema terapêutico, os pacientes com leucemia promielocítica aguda de risco padrão apresentaram sobrevida livre de eventos em dois anos de 98% e sobrevida global de 99%; e os pacientes com doença de alto risco apresentaram sobrevida livre de eventos de 96,4% e sobrevida global de 100%.

Estes são os melhores desfechos de sobrevida já relatados para leucemia promielocítica aguda pediátrica de alto risco, observou a equipe em uma coletiva de imprensa realizada em 10 de novembro no NCI.

O achado “é um avanço notável para crianças com leucemia promielocítica aguda e será o novo padrão de tratamento”, disse o moderador da coletiva, Dr. Malcolm Smith, Ph.D., chefe de oncologia pediátrica do NCI.

Os achados foram publicados on-line em 11 de novembro no periódico JAMA Oncology.

Este trabalho foi o resultado de uma série de ensaios patrocinados pelo NCI por meio de sua rede de pesquisa do Children’s Oncology Group para entender a melhor maneira de usar o novo esquema terapêutico, que é composto de ácido transretinoico (ATRA) e trióxido de arsênio, no tratamento da leucemia promielocítica aguda pediátrica. Ambos já existem há anos e são o tratamento padrão para adultos com a doença.

Os novos resultados sugerem que é melhor adotar uma abordagem minimalista, com ATRA + trióxido de arsênio usados isoladamente para crianças com risco padrão. Para crianças com doença de alto risco (≥ 10.000/μL leucócitos), a equipe adicionou apenas quatro doses do quimioterápico tradicional idarrubicina durante a indução. Não há fase de manutenção no tratamento.

“Isso levou muito tempo para ser feito”, comentou o primeiro pesquisador, Dr. Matthew Kutny, médico especialista em hemato-oncologia pediátrica da University of Alabama, nos EUA. “Estamos muito entusiasmados com os resultados”, acrescentou ele, enfatizando que isso é “radicalmente diferente do que vimos em nossos estudos anteriores de leucemia promielocítica aguda”.

Houve apenas uma morte durante a terapia de indução, um achado excelente na leucemia promielocítica aguda, disse ele.

Envolvimento de muitos centros de tratamento

O estudo incluiu 154 pacientes recém-diagnosticados com leucemia promielocítica aguda de até 21 anos de idade sendo tratados em 85 centros de oncologia pediátrica no Canadá, na Austrália e nos EUA.

A leucemia promielocítica aguda é rara, com apenas cerca de 80 casos pediátricos diagnosticados nos EUA por ano, então os pesquisadores tiveram de envolver muitos centros de tratamento, explicou o Dr. Matthew.

As crianças receberam ATRA oral + trióxido de arsênio intravenoso diariamente por pelo menos 28 dias durante a indução e, em seguida, de forma intermitente ao longo de quatro ciclos de consolidação, além de cuidados de suporte, incluindo dexametasona para a síndrome de diferenciação.

A administração de idarrubicina para pacientes de alto risco teve como objetivo reduzir a contagem de leucócitos; nenhum outro agente citotóxico tradicional foi usado.

O único caso de morte ocorreu no grupo de risco padrão, como resultado de sepse. Uma criança com risco padrão e duas crianças de alto risco tiveram recaída em um acompanhamento mediano de quase 25 meses.

No geral, o tratamento foi bem tolerado, com baixas taxas de infecções e neutropenia febril. Eventos adversos de grau ≥ 3 ocorreram em menos de 10% das crianças – todos durante a indução. “Os pacientes toleram isso muito bem”, disse o Dr. Matthew.

Uma abordagem superior

O trabalho foi “o sucessor natural”, de um estudo de 2017 com 101 indivíduos, disse o Dr. Matthew.

Esse estudo, também liderado pelo Dr. Matthew, usou um esquema mais complexo e mais tóxico, com ATRA isolado para indução seguido de consolidação com ATRA + trióxido de arsênio + citarabina + antraciclina, e um esquema de manutenção com ATRA + metotrexato + mercaptopurina.

Os resultados de sobrevida para pacientes de risco padrão foram equivalentes à nova abordagem, mas no estudo anterior os pacientes de alto risco pioraram, com sobrevida global de dois anos de 85,7%.

O tratamento também demorou muito mais na fase de manutenção, mais de dois anos versus apenas nove meses no novo esquema.

“Queríamos aproveitar os resultados de 2017, e sentimos que devíamos isso às crianças”, para encontrar uma abordagem menos tóxica, comentou o Dr. Matthew. O resultado “é um tratamento muito menos tóxico. É muito mais curto e os pacientes passam muito menos tempo no hospital. ” Os eventos adversos “foram muito mais raros com este esquema. As crianças se saíram maravilhosamente bem”, disse o Dr. Matthew.

A próxima etapa é ver se o trióxido de arsênio intravenoso pode ser trocado por uma formulação oral, para que as crianças e suas famílias possam passar ainda menos tempo no hospital.

A média de idade dos pacientes era de 14 anos; pouco mais da metade era de meninos. A associação de ATRA e trióxido de arsênio funciona bloqueando as proteínas que as células da leucemia promielocítica aguda precisam para sobreviver e crescer.

Na dose correta, um veneno famoso como o trióxido de arsênio, “pode ser um medicamento poderoso”, disse o Dr. Matthew. “Com o tempo, descobrimos a dosagem exata eficaz para matar esses tipos de células de leucemia sem danificar tecidos saudáveis.”

O trabalho foi financiado pelos National Institutes of Health (Children’s Oncology Group) e pela St. Baldrick’s Foundation. O Dr. Matthew informou não ter relações financeiras relevantes.